segunda-feira, 27 de julho de 2009

BAÚ DE TEXTOS - CONTOS MOÇAMBICANOS

O FIM DA AMIZADE ENTRE O CORVO E O COELHO

O corvo era muito amigo do coelho. Combinaram, um dia, que cada um deles transportasse o companheiro às costas, indo de povoação a povoação, para dar a conhecer às pessoas a amizade que os unia.
O corvo começou a carregar o coelho. Andou com ele às costas pelas aldeias e a gente, quando o via, perguntava-lhe:
- Ó corvo, que trazes tu aí?
- Trago um amigo meu que acaba de chegar de Namandicha. Passou assim com ele por muitas terras.
Chegou depois a vez de ser o coelho a carregar o corvo. Ao passar por uma aldeia, os moradores perguntou-lhe:
- Ó coelho, que trazes tu às costas?
- Ora, ora, trago penas, penugem e um grande bico – respondeu, a troçar, o coelho.
O corvo não gostou que o companheiro o gozasse daquela maneira, saltou logo para o chão e deixaram de ser amigos.

In: Contos Moçambicanos
INLD – 1979
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TODOS DEPENDEM DA BOCA...
Certo dia, a boca, com ar vaidoso, perguntou:
__Embora o corpo seja um só, qual é o órgão mais importante? Os olhos responderam:
__ O órgão mais importante somos nós: observamos o que se passa e vemos as coisas.
__ Somos nós, porque ouvimos __ disseram os ouvidos.
__ Estão enganados. Nós é que somos mais importantes porque agarramos as coisas, disseram as mãos.
Mas o coração também tomou a palavra:
__ Então e eu? Eu é que sou importante: faço funcionar todo o corpo!
__ E eu trago em mim os alimentos! __ interveio a barriga.
__ Olha! Importante é aguentar todo o corpo como nós, as pernas, fazemos. Estavam nisto quando a mulher trouxe a massa, chamando-os para comer. Então os olhos viram a massa, o coração emocionou-se, a barriga esperou ficar farta, os ouvidos escutavam, as mãos podiam tirar bocados, as pernas andaram... mas a boca recusou comer. E continuou a recusar. Por isso, todos os outros órgãos começaram a ficar sem forças...
Então a boca voltou a perguntar:
__ Afinal qual é o órgão mais importante no corpo?
__ És tu boca, responderam todos em coro. Tu és o nosso rei!
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A HIENA E O GALA-GALA

A Hiena estabeleceu relações de amizade com o Gala-Gala.
Um dia, a Hiena preparou cerveja e foi chamar o seu amigo lagarto:
__ Vamos beber cerveja.
Foram. O Gala-Gala embriagou-se. Perguntou à sua amiga Hiena:
__ Amiga, tu que gostas tanto de carne, se me encontrares morto no caminho, és capaz de me comer?
__ Não, isso nunca. Eu quero ser tua amiga. O lagarto embriagou-se muito e despediu-se:
__ Amiga, vou para minha casa.
__ Está bem.
O Gala-Gala partiu. A meio do caminho, deitou-se a dormir. A Hiena pensou: "O meu amigo bebeu muito. É melhor ir ver se ele chega bem a casa". Encontrou-o no caminho, deitado. Levantou-o:
__ É sono, amigo? É embriaguez?
Segurou-o, virando-o. O lagarto calou-se, sem respirar. A Hiena agarrou nele e atirou -o para o mato. Depois saiu do caminho, foi ver onde é que o Gala-Gala tinha caído e
encontrou-o.
__ O meu amigo morreu.
Cortou lenha, fez fogo, e agarrou no lagarto para o assar na fogueira. O Gala-Gala, sentindo o calor do fogo, bateu com a cauda nos olhos da Hiena e subiu, depressa, para uma árvore.
A amizade entre eles acabou ali. O Gala-Gala passou a viver nas árvores e a Hiena continuou a andar no chão, para nunca mais se encontrarem.
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CORAÇÃO-SOZINHO
O Leão e a Leoa tiveram três filhos; um deu a si próprio o nome de Coração-Sozinho, o outro escolheu o de Coração-com-a-Mãe e o terceiro o de Coração-com-o-Pai.
Coração-Sozinho encontrou um porco e apanhou-o, mas não havia quem o ajudasse porque o seu nome era Coração-Sozinho.
Coração-com-a-Mãe encontrou um porco, apanhou-o e sua mãe veio logo para o ajudar a matar o animal. Comeram-no ambos.
Coração-com-o-Pai apanhou também um porco. O pai veio logo para o ajudar. Mataram o porco e comeram-no os dois.
Coração-Sozinho encontrou outro porco, apanhou-o mas não o conseguia matar. Ninguém foi em seu auxílio. Coração-Sozinho continuou nas suas caçadas, sem ajuda de ninguém. Começou a emagrecer, a emagrecer, até que um dia morreu.
Os outros continuaram cheios de saúde por não terem um coração sozinho.

Um comentário:

SABINO disse...

OWESOME!!! muito obrigado, sou moçambicano e o blog foi muito util para mim na realização de um trabalho de faculdade, pois é deficil encontrar textos documentados (escritos) em Moçambique porque a maioria é de produção oral.

Uma frase

O verdadeiro mestre ama o que faz. Por Elisabete Souto Barbosa

VÍDEOS INTERESSANTES

Cantinho dos autores - Breve histórico

Maurício de Sousa, O pai da Turma da Mônica

Maurício de Sousa nasceu no Brasil, numa pequena cidade do estado de São Paulo, chamada Santa Isabel. Foi em outubro de 1935.
Seu pai era o poeta e barbeiro Antônio Maurício de Sousa. A mãe, Petronilha Araújo de Sousa, poetisa. Além de Mauricio, o casal teve mais três filhos: Mariza (já falecida), Maura e Márcio.
Em 1959, Maurício criou uma série de tiras em quadrinhos com um cãozinho e seu dono Bidu e Franjinha e ofereceu o material para os redatores da Folha. As historietas foram aceitas, o jornalismo perdeu um repórter policial e ganhou um desenhista.
Nos anos seguintes, ele criaria outras tiras de jornal Cebolinha, Piteco, Chico Bento, Penadinho e páginas tipo tablóide para publicação semanal - Horácio, Raposão, Astronauta - que invadiram dezenas de publicações durante 10 anos.
Daí chegou o tempo das revistas de banca. Foi em 1970, quando Mônica foi lançada já com tiragem de 200 mil exemplares. Foi seguida, dois anos depois, pela revista Cebolinha e nos anos seguintes pelas publicações do Chico Bento, Cascão, Magali, Pelezinho e outras.
Seus trabalhos começaram a ser conhecidos no exterior e em diversos países surgiram revistas com a Turma da Mônica.
Fonte de Pesquisa: http://www.turmadamonica.com.br/